Antes de o
colocar no papel e depois de o aplicar na parte prática da sua tese de
doutoramento, que apresentou na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação
da Universidade do Porto, Maria Amélia Dias Martins, especialista em insucesso
escolar, já tinha testado o modelo em contexto real em algumas escolas do país,
durante vários anos. O modelo NEERE - Modelo de Não Exclusão pela Eficácia da
Remediação Educativa - propõe um ensino supervisionado e diferenciado nas
disciplinas teóricas de Português, História, Ciências, Matemática e Inglês, para
as crianças com dificuldades de aprendizagem. É um modelo inovador,
económico, fácil de gerir e com premissas bem definidas. Um professor ansioso,
por exemplo, não pode ensinar um aluno hiperativo. Os docentes são escolhidos em
função dos alunos com quem irão trabalhar. "Um professor ansioso não pode ter um
aluno que se porta mal", especifica a especialista, que acrescenta que é
importante ter professores exigentes consigo próprios e com os seus alunos. A
seleção é um passo importante do processo. "Escolher professores que no seu
percurso escolar tenham demonstrado bons resultados com alguns alunos que
desenvolvem problemas e dificuldades de aprendizagem". Os docentes recebem
formação adequada para aplicar o modelo NEERE.
Os resultados são
reveladores. Adequadamente aplicado, o novo modelo educativo pode aumentar, em
mais de 50%, o sucesso escolar das crianças com dificuldades acentuadas na
aprendizagem, de uma forma mais eficaz e economicamente viável. No âmbito da
tese de doutoramento, Maria Amélia Dias Martins comprovou que os alunos aprendem
melhor, têm mais confiança em si próprios e, em cem por cento dos casos,
passaram de ano com aproveitamento.
Este modelo de ensino pretende
aproveitar recursos já existentes e ajudar alunos com insucesso escolar. Durante
um ano letivo, a especialista aplicou o modelo de educação pioneiro para
crianças com dificuldades escolares acentuadas. Selecionou 24 crianças com
insucesso escolar, em transição do 1.º para o 2.º ciclo, dividindo-as por um
grupo experimental de 11 crianças, no qual foi aplicado o modelo NEERE, e um
grupo de controlo de 13, onde vigorou o modelo de currículo comum. Os 13 alunos
do grupo de controlo foram distribuídos por diferentes turmas de 5.º ano do
ensino regular. Os 11 alunos do grupo experimental foram inseridos numa turma de
5.º ano, mas separados dos restantes elementos da turma nas disciplinas de
Português, História, Ciências, Matemática e Inglês, com um professor por
disciplina, selecionado para o estudo.
Nas aulas em que o modelo NEERE
foi seguido, os docentes tiveram liberdade de utilizar métodos e materiais que
consideravam mais adequados à sua área de especialidade. Esta intervenção
educativa esteve subordinada aos mesmos conteúdos programáticos dos restantes
alunos e a sua avaliação decorreu da mesma forma. Após um ano de aplicação, os
efeitos da intervenção são visíveis. O estudo demonstra que os resultados
relativos ao rendimento escolar foram positivos no grupo experimental, enquanto
que no grupo de controlo continuaram negativos quando comparados com os do
início do ano escolar.
No final do ano letivo, 100% dos alunos do grupo
experimental transitaram para 6.º ano, o que só se verificou com 38% dos alunos
que seguiram um currículo comum. Em relação à dimensão afetiva, a estabilidade
emocional das crianças era considerada semelhante no início do estudo. Já a
confiança dos alunos nas suas capacidades era mais elevada no grupo de controlo;
o grupo experimental considerava-se menos capaz de desempenhar tarefas
escolares.
No final do ano de escolaridade, as crianças ensinadas pelo
modelo NEERE, apesar de ainda estarem instáveis a nível emocional, registaram um
aumento significativo na sua autoconfiança. O grupo a quem foi aplicado o modelo
convencional manifestou, no final do ano, mais sinais de instabilidade emocional
e um nível muito mais baixo de confiança nas suas capacidades. Os resultados são
claros: os alunos chegaram ao final do ano com melhor rendimento escolar, maior
estabilidade emocional e uma maior confiança na sua capacidade de trabalho, em
comparação com os seus colegas abrangidos pelo método de ensino atualmente em
vigor.
Para Maria Amélia Dias Martins, educação é educação e ponto
final. O termo educação especial é, em seu entender, subjetivo. "As escolas têm
de estar equipadas para serem capazes de responder a todos os alunos que lhe
aparecem", refere. O modelo acabou por surgir no final da década de 90 depois de
olhar à volta e de constatar como funciona a realidade. "Há necessidade de
rentabilizar, por um lado, os professores e, por outro, de os alunos se sentirem
motivados entre os seus pares", comenta. As necessidades dos alunos não são
colocadas de lado e os patamares de desenvolvimento são respeitados. "Todo o
currículo é lecionado de acordo com o desenvolvimento da criança".
"O
segredo está na supervisão, além da avaliação diagnóstica prévia", sublinha. A
supervisão permanente faz toda a diferença no modelo NEERE que envolve todos os
atores - professores, alunos, pais, comunidade educativa - no processo. Um
modelo transversal, que se concentra sobretudo numa altura delicada do percurso
escolar dos alunos, ou seja, na transição do 1.º para o 2.º ciclos. "É
fundamental criar capacidades e conhecimentos e não há competências sem
capacidades e sem conhecimentos", afirma Maria Amélia Dias Martins.
Neste
momento, o modelo NEERE não está a ser aplicado em nenhuma escola.
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